Recomeço sem excessos

setembro 03, 2015

PALAVRAS DO CORAÇÃO

No post “O recomeço” dei uma pincelada sobre as mudanças que ocorreram na minha vida no final de 2013. Apesar de todo o trabalho, o difícil foi mesmo dar o primeiro passo. Decidir mudar o rumo das coisas, da rotina e da vida.



A mudança em si não era exatamente o problema, se passaporte fosse carimbado a cada nova cidade, o meu já estaria precisando se aposentar. Aprendi a lidar com o recomeço e com as coisas e pessoas deixadas para trás e descobri que, mantê-las na sua vida depende da dedicação e vontade de ambas as partes. 

Toda decisão implica consequências e para não surtar, fazendo lista de problemas, comecei a resolver uma coisa de cada vez.

Hoje quero compartilhar com você o que achei uma boa chamar de “rito de mudança”, uma lista das atitudes emocionais e práticas que podem surtir efeito no meio do furacão e que funcionaram para mim naquele momento:

1- Limpeza emocional: primeiro precisei me convencer de que eu não tinha obrigação nenhuma de continuar de mãos dadas com a solidão por imposição social. Morar sozinha não deve ser resultado da auto cobrança e nem da preocupação sobre o que o resto do mundo espera de você. Minha busca profissional deu frutos e já não fazia diferença morar lá ou aqui. Quando entendi isso, a brisa da renovação e da leveza soprou com tanta certeza que se eu pudesse, mudava naquele mesmo segundo.

2- Desapego: olhei a minha volta e o primeiro pensamento foi: onde vou enfiar tudo o que tenho aqui? A primeira ideia foi alugar um espaço tipo depósito e guardar tudo lá. Pensei também em uma casinha baratinha, mas nada disso soava bem. Percebi que precisaria rever minhas prioridades e desapegar. 

Comecei a caminhar pelo apê e fotografar tudo. Medi cada móvel e montei uma planilha no Excel com classificação de prioridade. Marquei o que eu gostaria de manter e o que eu podia doar. Liguei para uma entidade, disponibilizei o que foi possível e nem precisei me preocupar, pois eles mesmos foram buscar.

Os outros móveis foram negociados com a família. Com trena em mãos e muita criatividade, sugeri pequenas mudanças, trocas e locais para cada coisa. Confesso que estava preparada para abrir mão de muito mais. O que sobreviveu, agora tem destino certo e também é útil sem entulhar nenhum canto do novo lar.

3- Mudança: Não fui em busca de transportadoras especializadas, por serem muito mais caras. Essa alteração de rota de vida sem programação pegou-me desprevenida e eu precisava de uma solução mediana. Transportar as minhas coisas de forma que elas chegassem inteiras em seu destino por um custo acessível.  

Quando iniciei a pesquisa, notei que tudo estava muito caro. Eu tinha um valor pré-definido que achava justo pagar e fui atrás disso. Cada empresa apresentou o orçamento a sua maneira. Achei por bem fechar com a que foi mais clara e que também tinha indicação. 

Cada etapa do serviço tinha seu valor indicado e assim consegui fechar o total que estava ao meu alcance, que seria:
- Retirar armários de cozinha e embalar;
- Desmontar cama e embalar;
- Transporte apenas dos móveis maiores, embalados e algumas poucas caixas.

Pequenos móveis e tudo o que tinha dentro dos armários e que eu pudesse transportar sozinha, viajou primeiro. Fiz cinco viagens com o carro abarrotado. A coluna sofreu um pouco e o meu pretinho básico também, mas além de economizar, também pude organizar tudo aos poucos. A cada mudança de formiguinha, tudo era devidamente encaminhado. Até mesmo os pequenos móveis já chegavam com lugar certo para morar, mudança sem bagunça era minha principal meta (olha ela aí!).

Dica: Eu fiz a mudança praticamente sozinha e não sou provida de força física, por isso, ao invés de utilizar as tradicionais caixas de papelão, preferi as sacolas retornáveis (e resistentes) de supermercado. Tenho muitas para nunca esquecer de levá-las às compras e peguei outras emprestadas. O importante era usar as alças como facilitador na hora de tirar as coisas do chão e levar para o carro. As caixas eu teria que abaixar e levantar muitas vezes pela necessidade de apoiá-las por baixo, já as sacolas salvaram minha coluna. O segredo é não deixá-las pesadas demais. Se quiser carregar livros, deixe as sacolas quase vazias, alguns pesam tanto que três volumes já ultrapassam o limite feminino. 

04- Coisas duplicadas: Eu vivia um ir e vir constante, muita coisa era duplicada para facilitar a vida. Mantinha roupas e sapatos que já não curtia muito para não precisar carregar coisa demais na mala... e mesmo assim carregava. Assunto para a próxima!  

A questão é que dois guarda roupas não caberiam em um. Simples, é a lei da física! Dois corpos não ocupam o mesmo espaço e eu tinha que liberar metro quadrado do armário e toda a energia estagnada do que já estava empacado há anos.

A maioria do que eu possuía como apoio para os finais de semana não tinha mais nada a ver comigo. A primeira fase do “desentulhar” foi no “olhômetro” mesmo, tudo o que eu sempre deixava para usar depois, qualquer hora, quem sabe um dia, caiu fora sem discussão. Depois entrei na etapa do “experimentar”, que confesso, não tenho a menor paciência. Então, fiz uma caça às peças do “talvez você ainda me sirva” e montei uma pilha. Todos os dias levava uma peça para o banheiro, após o banho experimentava, serviu fica e vai para o armário. Não serviu, doa. Algumas calças quase serviram e resolvi deixá-las guardadas para incentivar minha busca pela compactação de medidas! Tenho um ano para voltar a entrar nas lindinhas, prazo encerrado, peças doadas.

05- As contas: Mudar de endereço requer muita atenção, porque a mudança em si é trabalho braçal pesado, mas os compromissos financeiros são burocráticos e desgastantes.

Eu mantinha uma lista mensal de contas e vencimentos para controlar tudo sem esquecimentos:
- Aluguel, condomínio, energia, telefone, gás, etc...

Abri uma pasta e nela guardei a ultima conta de cada uma, anotei meus dados e documentos que geralmente são pedidos e liguei para todos. Registrei em cada conta todo o procedimento de finalização de contrato ou cancelamento de serviço que os respectivos atendentes me passaram. Cada um tem seu prazo e processo. Montei uma agenda com as datas para contato considerando o dia previsto para a mudança. Foi trabalhoso, mas deu tudo certo.

06- O dia da mudança: para terminar a mudança, o caminhão contratado, além dos móveis grandes, ficou de levar também algumas caixas de coisas que eu não consegui transportar sozinha. Afinal, fiquei no apê até o último minuto e precisava comer, dormir, tomar banho... não dava para encaixotar, ou melhor, ensacolar tudo e levar embora. Por isso, algumas caixas ficaram para o dia “D” e duas ou três ficaram abertas até o final, esperando o momento certo de saltarem para dentro do caminhão. 

Uma das caixas era de produtos e materiais de limpeza. Por contrato, o imóvel deve sempre ser entregue pintado e exatamente do jeito que estava antes. Para não gastar com pintura, munida de esponja, água, detergente neutro e pano úmido, limpei todas as paredes. O pessoal da mudança nem acreditou. Mas já que comecei, fui até o fim!

A outra caixa era para coisinhas que, por ventura, vão sendo encontradas nos cantinhos esquecidos, como aquelas coisas pequenas que caem atrás das gavetas quando o armário é velho e meio capenga (fazer o quê? Apartamento alugado é assim mesmo!), ou o aparelho telefônico que ficou com linha até poucas horas antes da saída.

A terceira caixa era de coisas de cozinha, louças e alimentos sobreviventes sem refrigeração. Comer era preciso! Por isso, tínhamos nos programado (eu não estava sozinha nesse dia – ainda bem!) para comer coisas que não precisassem esquentar (o fogão foi doado) e nem mantidas na geladeira, pois ela havia sido desligada na noite anterior.

Tudo correu tranquilamente, apesar do cansaço e do calor. Enquanto o pessoal do caminhão pegava estrada (avisaram que iriam parar para comer no caminho) eu dava um pulinho até a imobiliária entregar as chaves para posterior vistoria, e logo após um almocinho rápido, também pegava a estrada para casa.

Enquanto ainda me via envolvida com a atmosfera da antiga morada, sentia certa energia saudosa. Um sentimento de “puxa, isso tudo vai ficar para trás! Não verei mais essa paisagem, nem farei todos os caminhos que já são parte do meu dia a dia”. Apesar de já estar acostumada com mudanças e recomeços, a pontada de nostalgia é inevitável.

Mas, quando me vi na entrada da cidade, nova cede de minha pessoa, soltei um suspiro. Tive certeza de que tinha tomado a melhor decisão.  Sentia-me voltando ao ponto de partida, porém diferente. Outra eu. A que saiu foi em busca de algo e a que chegou trouxe mais do que esperava. Ao mesmo tempo, era como se nunca tivesse saído dali. Como se o tempo não tivesse passado do lado de fora, mas dentro de mim pareciam séculos de distância daquela moça que saiu em busca de tanta coisa.

Se achei tudo o que fui buscar eu ainda não sei, mas descobri que tenho tudo o que preciso. Meu trabalho continua lá, uma conquista que valeu pelos sete anos de conversa comigo mesma. E agora, o recomeço sem excessos é uma meta material, emocional e psicológica. Quero mais leveza, menos estresse, mais prazer no jeito de viver e menos auto cobrança.

Você está de mudança? Organizar é importante, mesmo que a mudança pela qual esteja passando seja emocional. A vida é feita de ciclos e a cada fechamento de um, com certeza, haverá um pequeno terremoto. Aproveite toda e qualquer mudança imposta pela vida, para avaliar, repensar e reinventar...

A vida muda diariamente e você também, mesmo que seu endereço continue o mesmo. 

Beijos, beijos!!!









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